Medida da ANP exige coleta de amostra no abastecimento dos caminhões. Para reduzir filas, distribuidora em GO teria parado de cumprir nova norma.
Mariozan espera há mais de 48 horas para descarregar
combustível em Goiânia (Foto: Paula Resende/G1)
Após
as longas filas de caminhões-tanque no polo de distribuição da Petrobras em Goiânia, faltou
gasolina e óleo diesel em postos de combustíveis da capital, nesta quinta-feira
(27).
O problema começou após a implantação da nova norma para o abastecimento
nas distribuidoras, que prevê a coleta de amostra dos produtos para análise.
Para agilizar o serviço, as empresas decidiram descumprir as determinações da
Agência Nacional do Petróleo (ANP) e voltaram a realizar o procedimento antigo,
segundo informaram dezenas de caminhoneiros ouvidos pelo G1.
Um
deles é Maurício Luiz Milagre, de 52 anos, que nesta semana está pela segunda
vez no polo. “Começaram a fazer análise na segunda-feira (24) e pararam na
quarta-feira à tarde, mas pareceu uma eternidade. Eles [as distribuidoras] não
estão preparados para fazer a análise de forma rápida. Viram que não têm
condição de fazer assim”, disse o motorista.
Maurício
esteve na distribuidora no dia 24, quando fez o procedimento conforme a nova
determinação. Ele esperou cerca de 27 horas para conseguir encher o tanque com
gasolina e voltar para Quirinópolis, no sudoeste goiano. “Demorou muito. Com
isso, a gasolina do posto que eu trabalho secou duas vezes. Atrasa aqui,
acumula o problema lá”, ressaltou.
As
novas normas para abastecimento dos caminhões impõe um teste de qualidade do
produto e foi definida, em novembro do ano passado, pela ANP. No entanto, só
entrou em vigor no último dia 20, pois as distribuidoras tiveram um prazo de
até 120 dias para se adaptarem à mudança.
Falta
de adequação
Os motoristas afirmam que, por falta de estrutura do polo de distribuição em se adaptar à determinação, houve o registro de filas dos caminhões, sendo que alguns chegaram a esperar mais de 27 horas para abastecer.
Os motoristas afirmam que, por falta de estrutura do polo de distribuição em se adaptar à determinação, houve o registro de filas dos caminhões, sendo que alguns chegaram a esperar mais de 27 horas para abastecer.
Os
caminhoneiros que querem descarregar combustíveis no polo da Petrobras também
são prejudicados, como é o caso de Mariozan Alvez Bueno, que veio de
Maurilândia para a capital na terça-feira (25) e, dois dias depois, ainda não
conseguiu ser liberado.
Postos de combustíveis de Goiânia têm falta de gasolina e diesel (Foto:
Paula Resende/G1)
“Programaram
para eu descarregar hoje. Tomara que dê certo porque só ganho se fizer o frete,
como não faço, não tem comida na mesa e as prestações da carreta atrasam. A
gente ainda tem que tirar do bolso para ficar aqui parado”. Caminhoneiro há 32
anos, ele conta que nunca tinha visto isso acontecer aqui. “Geralmente faço
três viagens por semana, nessa não finalizei nenhuma”, lamenta.
Com
a demora no abastecimento dos caminhões, cerca de 30% dos postos de Goiânia
registraram falta de produtos na quarta-feira, segundo o Sindicato do Comércio
Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Goiás (Sindiposto). A
administradora Marilene Santos conta que também foi difícil achar um posto com
combustível na bomba na manhã desta quinta-feira. “Esse é o terceiro posto que
eu passo. Os outros dois não têm álcool nem gasolina e nem nada”, conta.
Para
evitar que a situação piorasse, as empresas distribuidoras informaram ao
sindicato que a norma da ANP seria descumprida. “Ontem [quarta-feira]
praticamente não houve abastecimento na capital e isso gerou um alerta. Sendo
assim, as empresas nos comunicaram que iriam retomar o procedimento anterior,
mesmo sabendo que ficariam passíveis a sanções”, explicou ao G1 o diretor do
sindicato Gustavo Faria.
O
Sindiposto afirmou, ainda, que é favorável a uma fiscalização maior para
garantir a qualidade dos combustíveis, mas as distribuidoras e a ANP precisam
se entender para evitar transtornos aos consumidores. “As mudanças são
importantes, pois antes apenas os donos dos postos eram responsabilizados por
falhas nos produtos. Agora, as distribuidoras também serão obrigadas a fornecer
combustíveis dentro das normas. Porém, acho que é preciso uma conversa entre os
envolvidos, com estabelecimento de novos prazos, exigências de investimentos e
multas. Só assim o novo procedimento pode ser adotado sem gerar prejuízos”,
destacou.
Caminhonheiro Maurício Luiz aguarda para caregar caminhão-tanque (Foto:
Paula Resende/G1)
A
assessoria de imprensa da Petrobras Distribuidora disse ao G1 que todas as
informações sobre problemas registrados no polo instalado na capital ficarão a
cargo do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom).
Procurado
pelo G1,
o Sindicom não confirma se a coleta de amostras deixou de ser feita, como
alegam os caminhoneiros, mas admitiu, por meio de nota, que as distribuidoras
começaram a discutir sobre o descumprimento da norma. “As empresas estão
conscientes dos problemas no abastecimento do mercado e tomarão as medidas
cabíveis para buscar cumprir com suas responsabilidades perante os
consumidores”, ressaltou a entidade.
Até
a noite de quarta-feira, cerca de 300 caminhões-tanque aguardavam por
abastecimento e descarga no polo de Goiânia. Com a suposta mudança no
procedimento, a fila de espera teve redução nesta manhã, quando mais de 150
veículos permaneciam estacionados no pátio e nas ruas próximas ao centro de
distribuição.
O
Sindicom informou ainda que o cumprimento da resolução da ANP é inviável, já
que determina a obrigatoriedade de retirada de amostras dos combustíveis nas
bases.
“Esta
inviabilidade deve-se ao tempo adicional gasto na coleta, o que gera atrasos no
carregamento de caminhões e no atendimento da demanda do mercado. O Sindicom já
vinha alertando há mais de um ano a ANP e revendedores, que defendem a medida,
que a coleta causaria graves problemas para o abastecimento”, destacou a
entidade.
Sobre
o prazo de 120 dias para adequação, o Sindicom afirma que os polos de
distribuição não foram projetados para a operação de coleta sistemática, pois
isso demandaria um espaço físico maior.
“Grande
parte das bases não comporta as ampliações necessárias. Por conta disso, o
sindicato entrou na Justiça contestando a resolução e formalizou à ANP uma
solicitação de suspensão temporária da resolução”, diz a nota. A entidade
sugere que, em vez das coletas serem feitas no momento do abastecimento, elas
deveriam ser feitas periodicamente, por amostragem.
Novas
regras
A ANP informou ao G1, em nota, que a Resolução nº 44/2013 estabelece que, nos casos em que o combustível adquirido pelos postos é retirado por uma distribuidora, a empresa responsável pelo fornecimento é obrigada a retirar a chamada “amostra-testemunha”, que deve ser coletada antes de o caminhão deixar as instalações do polo. “Não houve nenhuma outra modificação no procedimento de abastecimento além dessa coleta”, ressaltou o texto.
A ANP informou ao G1, em nota, que a Resolução nº 44/2013 estabelece que, nos casos em que o combustível adquirido pelos postos é retirado por uma distribuidora, a empresa responsável pelo fornecimento é obrigada a retirar a chamada “amostra-testemunha”, que deve ser coletada antes de o caminhão deixar as instalações do polo. “Não houve nenhuma outra modificação no procedimento de abastecimento além dessa coleta”, ressaltou o texto.
Segundo
a agência, o objetivo da medida é garantir a integridade do produto até o
destino final. “A amostra-testemunha constitui-se em importante ferramenta para
rastreamento e identificação do responsável por problemas de qualidade do
combustível comercializado pelos postos”, destacou a ANP.
Conforme
o órgão, a resolução foi “amplamente” discutida com o mercado por mais de um
ano antes da publicação no Diário Oficial da União. “Além disso, o prazo de
adequação chegou a ser ampliado de 90 para 120 dias a pedido dos agentes
econômicos da cadeia de abastecimento, entrando em vigor no dia 20 de março
deste ano”.
O G1 questionou a ANP
sobre o descumprimento das novas normas informado pelos motoristas e das
possíveis punições que podem ser aplicadas às distribuidoras. Entretando, a
agência não enviou o parecer sobre as sanções até a publicação desta
reportagem.
Mudanças
de procedimento
Antes da nova resolução, os caminhoneiros chegavam ao polo de distribuição e retiravam uma ordem de carregamento. No documento, estava especificada a quantidade de combustível que seria fornecida. Em seguida, o caminhão-tanque aguardava em uma fila de espera e era chamado de acordo com a liberação das baias de carregamento.
Antes da nova resolução, os caminhoneiros chegavam ao polo de distribuição e retiravam uma ordem de carregamento. No documento, estava especificada a quantidade de combustível que seria fornecida. Em seguida, o caminhão-tanque aguardava em uma fila de espera e era chamado de acordo com a liberação das baias de carregamento.
Ao
término do processo, o motorista recebia um documento que atestava a qualidade
do produto e a nota fiscal, podendo seguir para os postos de combustíveis. Todo
esse processo levava, em média, 3 horas.
Depois
da implantação da nova norma, o início do procedimento continua o mesmo. A
mudança ocorre após o abastecimento, pois os caminhoneiros precisam dar voltas
no pátio do polo para homogeneizar o combustível e, em seguida, fazer a coleta
da “amostra-testemunha”. Segundo os motoristas, o material segue para análise,
o que leva cerca de 1 hora. Se o resultado for satisfatório, a nota fiscal é
entregue e o caminhoneiro pode seguir viagem. Caso contrário, precisa refazer
todo o procedimento. No entanto, a ANP nega que a norma exija a análise do
produto no mesmo local.
Fila em polo de distribuição em
Goiânia chegou a ter mais de 300 caminhões (Foto: Paula Resende/G1)
Edição:
Nova Glória News
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