Secretaria de Educação teme que professor não possa socorrer a garota. Médica garante que alergia não impede criança de estudar, em Catalão, GO.
Aos 4 anos, Maria Júlia sofre com alergia alimentar (Foto: Arquivo pessoal)
A
família de Maria Júlia Ferreira dos Santos, de 4 anos, trava uma batalha para
que a criança consiga uma vaga em uma unidade de ensino de Catalão, no sul de
Goiás. Segundo a mãe da garota, Claudia Ferreira, 42, a menina não pôde ser
matriculada nas unidades públicas porque sofre de alergia alimentar múltipla.
O
tema desta reportagem foi sugerido por um leitor pela ferramenta de jornalismo
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Enquanto
a mãe e a médica que acompanha a criança desde o nascimento afirmam que a
doença não deve impedi-la de frequentar a escola, a Secretaria Municipal de
Educação afirma que, mesmo disponibilizando professor de apoio para acompanhar
a criança, ele não teria conhecimentos técnicos para aplicar corretamente a
medicação necessária.
Sem
a vaga nas escolas públicas, a família buscou ajuda em uma escola particular de
Catalão. Segundo a mãe, a unidade de ensino aceitou a criança e ofereceu uma
bolsa de estudos parcial para Maria Júlia. O primeiro dia de aula dela
aconteceu na última quarta-feira (23).
Porém,
para a mãe de Maria Júlia, a conquista da vaga não apagou o sentimento que teve
ao ter a matrícula nas instituições públicas negada. “Me senti discriminada,
como se eu fosse a última criatura da terra, como se minha filha não tivesse
direito a nada e ninguém fosse lutar por ela. Senti como se eu fosse culpada da
Maria Júlia ter nascido com problema”, lamenta Claudia.
Reação
Segundo a médica que acompanha Maria Júlia, a especialista em alergia Juliana Lima Ribeiro, se a criança ingerir algum alimento a que tem alergia, ela pode ter problemas como falta de ar e desmaio.
Segundo a médica que acompanha Maria Júlia, a especialista em alergia Juliana Lima Ribeiro, se a criança ingerir algum alimento a que tem alergia, ela pode ter problemas como falta de ar e desmaio.
“A
gente não pode achar que nunca pode acontecer algo mais grave porque a reação
alérgica é imprevisível. Os professores ficam com medo, mas a recomendação é
que a criança seja observada para não comer algo que não pode, mas isso não
significa que eles não possam recebê-la. Maria Júlia não só pode como merece
estudar, merece educação”, afirma.
A
médica explica ainda que a criança carrega o tempo todo uma espécie de caneta
com um medicamento que deve ser injetado no caso dela ingerir um alimento e
sofrer uma reação. Segundo Juliana Ribeiro, caso necessário, a aplicação
poderia ser feita por professores da unidade de ensino.
O G1 entrou em contato
com a Secretaria de Educação de Catalão, que afirma ter recebido o requerimento
da mãe e analisou uma unidade de ensino em que a criança pudesse ser
matriculada. Foi oferecida uma vaga em uma unidade que possui, no mesmo espaço
da escola, um posto de saúde, o que garantiria que ela teria atendimento caso
sofresse alguma reação. Porém, de acordo com a secretaria, a mãe recusou a vaga
por causa da localização da escola.
Já
segundo a mãe, a diretora da unidade afirmou a ela que o posto de saúde deve
sair do local em breve e que, assim, a escola não poderia se responsabilizar
pela menina.
Ainda
segundo a Secretaria, o promotor da Infância e Juventude de Catalão, Fábio
Santesso Bonnas, também recomendou à mãe que “priorizasse o tratamento da
criança, que após constatar uma melhora, inclusive com medicação preventiva,
retornasse à unidade de ensino para efetivar a matrícula”.
A
Rede Municipal de Educação de Catalão afirma, em nota, que possui professores
de apoio à disposição de aproximadamente 140 alunos com intolerância a produtos
como lactose e açúcar. “Porém, nunca antes foi nos apresentado um caso com
peculiaridade como o que foi apresentado pela mãe da Maria Julia e,
principalmente, com a necessidade de um profissional de educação assumir a
responsabilidade de ministrar um medicamento que se aplicado incorretamente
poderá causar sérios danos a saúde da criança”, diz o comunicado.
Lutas
Segundo a família, Mara Júlia enfrenta verdadeiras batalhas desde o nascimento e teve de ser operada no segundo dia de vida. “Quando nasceu, a médica disse que ela tinha uma obstrução intestinal grave e tinha que ser internada em Goiânia. A Maria Júlia acabou tendo que ser operada com 46 horas de vida”, lembra a mãe.
Segundo a família, Mara Júlia enfrenta verdadeiras batalhas desde o nascimento e teve de ser operada no segundo dia de vida. “Quando nasceu, a médica disse que ela tinha uma obstrução intestinal grave e tinha que ser internada em Goiânia. A Maria Júlia acabou tendo que ser operada com 46 horas de vida”, lembra a mãe.
Ela
se lembra que a cirurgia correu bem, a criança foi para a Unidade de Terapia
Intensiva (UTI), mas acabou tendo uma pneumonia que virou uma infecção
generalizada. Maria Júlia permaneceu em tratamento em um hospital na capital
por 45 dias até retornar a Catalão. Meses depois, voltou a ter problemas de
saúde, com graves diarreias.
Maria Júlia brinca de colorir em casa (Foto: Arquivo Pessoal)
“Ela
nasceu com 3,1 kg. Aos 2 meses e 13 dias, ela pesava 2,5 kg. Aí, começou o
sofrimento, a peregrinação de um médico para outro, viajando constantemente de
Catalão para Goiânia e Uberlândia (MG)”, conta a mãe.
Com
consultas e exames que chegavam a custar R$ 200 cada, veio o diagnóstico de que
Maria Júlia sofre com alergia alimentar múltipla. Por isso, por um período de
cerca de um ano a criança teve de ser alimentada com um leite especial que,
segundo a família, custa em média R$ 600 a lata. “Ela tomava mais ou menos 15
latas dessas em um mês”, relata Claudia.
Os
pais conseguiram que, por um período, o gasto com o leite fosse custeado pelo
governo. Mas, enquanto a mãe teve de abandonar o trabalho para se dedicar à
criança, o pai, por sua vez, precisou conseguir outro emprego para sustentar a
família.
Esperança
Aos poucos, uma nova alimentação foi sendo apresentada à criança, e hoje ela já consegue se alimentar de outros tipos de alimentos. “São coisas especiais, marcas específicas. Tudo é restrito. Ela não come balinha, chocolate. Eu não posso sair com ela e lanchar na rua, por exemplo. Esses dias ela tomou um suco e quase morreu porque provavelmente o liquidificador usado estava com resto de outro líquido”.
Aos poucos, uma nova alimentação foi sendo apresentada à criança, e hoje ela já consegue se alimentar de outros tipos de alimentos. “São coisas especiais, marcas específicas. Tudo é restrito. Ela não come balinha, chocolate. Eu não posso sair com ela e lanchar na rua, por exemplo. Esses dias ela tomou um suco e quase morreu porque provavelmente o liquidificador usado estava com resto de outro líquido”.
De
acordo com a médica, 90% das crianças com a doença melhoram até o 4 anos de
idade. “Ela ainda não melhorou, mas uma vez ao ano a gente testa os
alimentos sob supervisão médica e a qualquer momento ela pode ter a melhora”,
diz a especialista.
Ela
explica que o problema maior é que Maria Júlia tem alergia a vários alimentos.
"Na maioria das crianças, a alergia é a um alimento só. Por isso, a gente
restringe a alimentação fora de casa”, esclarece. Porém, a médica ressalta que
essa restrição não deve impedir a menina de frequentar a escola. “A mãe não
está pedindo que escola dê uma alimentação especial. Ela mesma manda a comida.
Eles só precisam observar para ela não comer algo que não pode", afirma.
Fonte
e foto: G1 - Goiás
Edição:
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